Não via a hora da estreia do comercial. Seria no horário nobre, e o bairro
inteiro, aliás, a cidade inteira se tornaria um buchicho só no dia seguinte. À tarde,
fora buscar o cachê da sua participação e, junto com as outras dançarinas,
assistiu ao filme já editado. Faltava apenas a inserção da logomarca do produto.
As evoluções por demais ensaiadas no estúdio e na escola de balé que
frequentavam ficaram perfeitas. Os passos finais, em slow motion, culminavam
com o salto de todas em direção à câmera. Uma das colegas, a de perfil mais
próprio, mais nórdico, mostra, na palma da mão, o copinho do iogurte anunciado –
o produto disputando a tela com os sorrisos sadios das moças por breves 5
segundos de imagem congelada.
Às 19 horas, a janela da sala – e o próprio cômodo – estava apinhada de
gente. Quem possuía TV em casa ouvia as reclamações de quem não possuía o
aparelho; todos consideravam mais emocionante assistir ao comercial na casa da
artista.
Plim Plim. Os moleques largaram as bolas de gude na réstia de barro onde
brincavam e se enfiaram por entre as pernas dos adultos. A irmã da bailarina, na
varanda, interrompeu o beijo e adentrou na sala arrastando o namorado pela mão.
Os comerciais que se sucediam, mesmo os mais tolos, nunca tiveram uma plateia
mais atenta e silenciosa.
Começou. As moças dançavam como as cabeças dos espectadores. “Cadê
ela?! Cadê ela?!” “Ali ó. Aquela de roupa azul.” “Mas são várias! Bem que a TV
podia ser maior, né?”, observou um vizinho. “No final fico mais visível”, disse a
dançarina aflita. “Psssiu!”, repreendeu a mãe.
Para todos os 30 segundos foram eternos. Quando o balé iniciou os
movimentos finais, a bailarina inclinou-se instintivamente para a TV. Na tela, ao
canto superior direito, uma tarja branca como o nome do produto apareceu e foi
escorregando em diagonal. Foi entrando... entrando... e parou, escondendo ao
fundo seu rosto negro tão bonito.
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